HOMICÍDIOS EXEMPLARES: 666
Puxava um carrinho de compras…
Na direcção contrária ia o rapaz mal-encarado, todo de preto (excepto o fio de prata com o crucifixo invertido ao pescoço), até o cabelo e a barba, até as unhas e os olhos; com a roupa cheia de imagens de caveiras sobre ossos cruzados, pentagramas invertidos, o número “666” e outras que a senhora não reconhecia nem percebia.
Talvez pela bebedeira da noite que ainda conservava em si (ou que ainda o conservava nela), talvez por pura malvadez, o rapaz alto e forte não se desviou da senhora marreca e franzina, e colidiu com ela, quase a derrubando.
Mas a senhora não se desfez e olhando o rapaz nos olhos, com um sorriso disse-lhe, numa voz tremulamente doce: “Perdão”.
Ao que o rapaz vociferou: “…o caralho!!”
Ela, mantendo a compostura, respondeu calmamente: “Jovem, onde te levam tais modos? Com certeza tens objectivos, nem que seja apenas espalhar a maldade no mundo.”
O bruto estava agora quase letárgico.
“Concordarás que tal mensagem ou até actos se disseminarão melhor com bons modos.”
“Quê?!”, grunhiu.
“Reparei no que ostentas. Quão bem conheces o teu mestre? Se soubesses um pouco da sua história saberias imitar-lhe o exemplo de hipocrisia, pois é a melhor forma, quando aprimorada, de levar barco a bom porto.”
O silêncio parecia espelhar algum interesse, e a ressaca...
“Agora… Atenta, pois o verdadeiro anjo do mal passa despercebido, não tem figura nem memória, é anónimo, não existe.”
Os olhos do rapaz inquietavam-se, a boca começava a salivar…
“E quando dás por ele, quando dás por mim…”
O rapaz parecia agora verdadeiramente ansioso.
“…tens uma faca espetada no rim!”
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